Neste último domingo (19), os cristãos ortodoxos de todo o mundo celebraram Pentecostes, chamado de Domingo da descida do Espírito Sa...



Neste último domingo (19), os cristãos ortodoxos de todo o mundo celebraram Pentecostes, chamado de Domingo da descida do Espírito Santo ou Domingo da Trindade. Neste mesmo dia se deu a abertura do Santo e Grande Sínodo dos Primazes Ortodoxos, também nomeado Pan-Ortodoxo. Nós, da Eparquia Ortodoxa do Rio de Janeiro e Olinda-Recife, festejamos o Jubileu de 30 anos de Igreja no Brasil. Para maior felicidade, o Leitor Adriano (missionário que auxilia o trabalho pastoral nas missões da Paraíba) foi elevado ao subdiaconato durante a Liturgia presidida por S. Exa. Rvma. Dom Ambrósio na Missão Ortodoxa da Apresentação da Santíssima Theotókos, localizada na Aldeia Indígena Silva de Belém em Rio Tinto-PB. O Rvmo. Arquimandrita Jerônimo, o Rvmo. Presbítero Emiliano e o Rvmo. Diácono George assistiram o bispo, junto ao novo subdiácono e os acólitos Camilo e o pequeno José.

Felicitamos o Rv. Subdiácono Adriano por este passo importante e de grande valor na vida da Igreja, agradecemos seus esforços e serviço missionário. Deus o salve!

FOTOS: João Robson

Metropolita Anthony Bloom O tema do meu exposto é a espiritualidade ou a paternidade espiritual, ou ainda, se preferirdes, “nutrir e...

Metropolita Anthony Bloom


O tema do meu exposto é a espiritualidade ou a paternidade espiritual, ou ainda, se preferirdes, “nutrir espiritualmente”, ou então “cuidar das almas”.

Eu gostaria, primeiramente, definir a palavra “espiritualidade”, porque habitualmente quando falamos de espiritualidade falamos de certas expressões de nossa vida espiritual, tal como a oração, a ascese; e isto está claro em certos livros como, por exemplo, aqueles de Teófano o Recluso. Todavia, tonar-se necessário, ao que me parece, relembrar que a espiritualidade consiste na realização da ação do Espírito Santo em nós. A espiritualidade não é o que designamos habitualmente por esta palavra, mas antes a manifestação da ação misteriosa do Espírito Santo.

E isto nos coloca imediatamente numa posição muito nítida em relação à paternidade espiritual, pois não se trata mais de formar uma pessoa seguindo certos princípios e de lhe ensinar a se desenvolver na oração ou na ascese segundo alguns esteriótipos. A paternidade espiritual consistiria então, para o pai espiritual, qualquer que seja o seu nível próprio de espiritualidade, vigiar com um olho vigilante o que faz o Espírito Santo com e em tal pessoa; ele estimulará Sua ação, a protegerá contra as tentações ou as quedas contra as hesitações de incredulidade. Em consequência, a função do Pai Espiritual pode parecer, de uma parte, mais considerável do que pensamos geralmente.

Antes de ir mais adiante, gostaria de dizer duas palavras acerca do fato de só haver um único conceito da paternidade espiritual. Existem, ao que me parece, três tipos de Pais Espirituais.

No nível fundamental, é um Presbítero a quem é dado a graça do sacerdócio e que traz nele não somente o direito mas a força plena da graça de celebrar os Sacramentos – o Sacramento da Eucaristia, o Sacramento do Batismo, o Sacramento da Unção dos Doentes, assim como o Sacramento da Confissão, quer dizer da reconciliação do homem com Deus. O grande perigo que pode vir a tomar o jovem Padre inexperimentado, cheio de entusiasmo e de esperança, reside no fato de que, as jovens gentes, recém saídas das Escolas de Teologia imaginam que a ordenação os dotou de conhecimentos e de inteligência, e de experiência e da capacidade de “discernir os espíritos”. Eles tornam-se então semelhantes àqueles que denominávamos na literatura ascética, dos neo-startsy, o que quer dizer que, não possuindo ainda nem maturidade espiritual, nem mesmo o conhecimento que traz tão simplesmente uma experiência pessoal, pensam ter-lhes sido ensinado a tomar um pecador arrependido pela mão e o elevar da terra ao céu.

Infelizmente, isto se produz muito geralmente, e em todos os países: o jovem Padre, em virtude de seu sacerdócio, e não porque tem uma experiência espiritual, nem porque Deus ai o conduziu, se põe a dirigir seus filhos espirituais à grand renfort d’oukases: não faça isso, não faça isto; não leia este gênero de literatura; vá à Igreja; faça metanóias... E, no fim das contas, obtemos uma forma de caricatura da vida espiritual nestas “vítimas”, que fazem tudo o que faziam os ascetas, talvez, mas eles o faziam por experiência espiritual e não porque são animais domesticados. Quanto ao Padre, é uma catástrofe, porque penetra num domínio em que não tem nem o direito, nem a experiência de invadir. Eu insisto nisso, porque é uma questão essencial para o clero.

Só podemos ser Starets (Ancião) pela graça de Deus: é um fenômeno carismático, é um dom; e não podemos aprender a ser um Starets, tal como não podemos escolher a via de qualquer talento. Podemos todos sonhar em ser gênios, mas todavia compreendemos perfeitamente que Beethoven ou Mozart, Leonardo da Vinci ou Roublev possuíam um talento tal que não podemos adquiri-lo em escola alguma nem mesmo por uma longa experiência, mas que é um dom divino da graça.

Eu insisto acerca disto, sem dúvida um pouco mais de tempo, mas me parece que é um tema essencial, e na Rússia talvez até mais do que no Ocidente, pois o papel do Padre aí é mais central. E geralmente os jovens Padres – jovens em idade ou em maturidade, ou imaturidade – “governam” seus filhos espirituais no lugar de os fazer crescer.

Os fazer crescer, significa estar com eles, conduzir-se com eles tal como o jardineiro o faz com as flores ou as plantas. Ele se importa em conhecer a natureza da planta, as condições climáticas ou outras, nas quais ela vive, e somente então podemos ajudar – e é tudo o que podemos fazer – ajudar esta planta a se desenvolver da maneira que é própria à sua natureza particular. Não saberíamos quebrar uma pessoa para torná-la semelhante a si. Certo escritor religioso ocidental disse: “Só podemos levar um filho espiritual a ele próprio, e o caminho que conduz ao interior de sua própria vida pode por vezes ser muito longo...” Nas Vidas dos Santos, podemos ver o quanto os grandes Startsysabiam fazê-lo, como sabiam ser eles próprios e ao mesmo tempo ver claramente no outro sua natureza excepcional, única, e dar à esta pessoa, à uma outra, à uma terceira, a possibilidade de ser também elas próprias e não réplicas deste Starets ou, pior ainda, seu duplo esteriótipo.

O encontro de Antônio e Teodósio das Grutas de Kiev é um exemplo na história da Igreja russa. Teodósio fora o discípulo de Antônio e, todavia, suas vidas não têm nada de comum, se considerarmos que Antônio era um eremita e Teodósio o fundador da vida cenobítica. Poderíamos perguntar de que maneira pôde Antônio prepará-lo a fazer o quê ele próprio não havia feito, e a fazer um homem tal como ele próprio não quisera ser e ao que Deus não lhe havia chamado.

Parece-me que lá, é necessário fazer muito claramente a diferença entre o nosso desejo de tornar uma pessoa semelhante a si e o desejo de torná-la semelhante a Cristo.

O Startsestvo, como eu já disse, é um dom cheio de graça, é o talento espiritual, e eis porque ninguém dentre nós pode sonhar em se conduzir como Starets. Todavia, existe ainda um domínio intermediário, é a paternidade. E de novo repito: o Padre jovem demais – e menos jovem – pelo fato de o chamarmos “Padre fulano”, se imagina não simplesmente um Padre Confessor, mas em verdade “um pai” no sentido em que o ouvíamos o Apóstolo Paulo dizer: “Vós tendes muitos pedagogos, mas sou eu quem vos engendrei em Cristo”; e em seu tempo, São Serafim de Sarov dizia a mesma coisa. É pai – e não obrigatoriamente um Padre – aquele que fez nascer à vida espiritual uma outra pessoa, quando esta, ao depositar seu olhar nele, viu – como diz o antigo ditado – em seus olhos e em seu rosto, o esplendor da vida eterna, e em virtude disso, pôde aproximar-se mais dele e pedir-lhe para ser seu mestre e seu guia.

O que distingue igualmente um pai, é o fato dele ser de alguma maneira do mesmo sangue que o discípulo, que na vida espiritual, eles partilhem o mesmo espírito. Pode ele assim guiá-lo pois entre eles existe uma verdadeira harmonia, não somente de espírito, mas também de alma.

Vós que vos recordais certamente que em seu tempo o deserto do Egito era super povoado por ascetas e guias espirituais, e portanto as gentes não escolhiam para si próprias um mestre segundo o seu renome, não iam àquele que diziam ser o melhor, mas antes encontravam para si o guia que compreendiam e que os compreendia.

E isso é muito importante, pois a obediência não é cumprir cegamente tudo o que dirá aquele que tem sobre ti um poder, que ele seja econômico ou físico, moral ou espiritual; para o discípulo que, tendo escolhido para si um guia espiritual em quem ele tem uma confiança absoluta e em quem ele vê o que ele-próprio procura, a obediência consiste em estar atento não somente à cada uma das palavras de seu pai, mas como também ao tom de sua voz; testemunha de todos os fatos e gestos de seu guia, e de todas as manifestações de sua experiência espiritual, ele se esforça em ultrapassar a si-próprio, de se iniciar à esta experiência a fim de tornar-se aquele que já cresceu para lá da medida que havia atingido pelos seus próprios esforços. A obediência é antes de tudo o desejo de escutar e de ouvir não somente com a sua inteligência, não somente com seus ouvidos, mas de todo o seu ser, coração aberto, com uma contemplação recolhida do mistério espiritual do outro.

E do lado do Pai Espiritual que vos pôs no mundo ou que já vos recebeu concebido, mas que pode ser todavia um pai para vós, ele deve ter uma profunda veneração pela ação do Espírito Santo em vós. O Pai Espiritual, como em suma, todo Padre de paróquia consciente, deve ser/estar em estado de ver em uma pessoa a beleza da imagem de Deus, aquela que jamais fora tirada (e este estado se adquire por vezes ao preço de esforços, de uma profunda reflexão, de uma atitude respeitosa para com aquele que vem a ele). Mesmo se o homem está corrompido pelo pecado, o Pai Espiritual deve ver nele um ícone, sofrido pelas circunstâncias da vida, da negligência humana ou de sacrilégios; ver nele este ícone e se recolher diante do que resta e, em virtude desta beleza divina que está nele, trabalhar em afastar tudo o que desfigura esta imagem de Deus. O Padre Eugraph Kovalevsky, ainda enquanto leigo, me disse, certa vez: “Quando Deus olha o homem, Ele não vê nele nem as virtudes que ele talvez não tenha, nem o sucesso que ele não tem, mas Ele vê a imutável e resplandecente beleza de Sua Própria Imagem...” E então, se o Pai Espiritual não é capaz de ver em uma pessoa esta eterna beleza, de ver nela as primícias da realização de sua vocação de Cristo, então ele não pode guiá-lo; pois não construímos um homem, não o fabricamos, mas o ajudamos a crescer à medida da vocação que lhe é própria.

E lá, a palavra “obediência” pede talvez algumas precisões. Habitualmente, falamos de obediência como de uma submissão, de uma dependência e por vezes mesmo de uma sujeição ao guia espiritual ou aquele a quem havemos dado – de maneira torta e ao detrimento não somente de si mesmo mas também do Padre – o nome de Pai Espiritual ou de Starets. A obediência consiste precisamente no que eu disse acima: estar à escuta de todas as forças de sua alma. Todavia, isto compromete em igual medida o Pai Espiritual e o discípulo; pois o Pai Espiritual deve mobilizar toda sua experiência, todo o seu ser, toda a sua oração e, eu diria mesmo ainda mais, toda ação nele da graça do Espírito Santíssimo, a fim de perceber o que o Espírito Santo realiza naquele que se confiou a ele. Ele deve saber espiar nesta pessoa as vias do Espírito Santo, ele deve se recolher diante do que Deus realiza e não procurar estudá-lo seja de acordo com o seu próprio modelo, seja como lhe parece que o outro deveria desenvolver, enquanto “vítima” de sua direção espiritual.

E dos dois lados é-se pedido humildade. Nós esperamos a humildade da parte do discípulo ou do filho espiritual; mas quanto não é necessário a um Padre, um Pai Espiritual, para jamais invadir o domínio santo, para tratar a alma do outro tal como Deus ordena a Moisés de tratar o solo que rodeava a Sarça Ardente. E todo homem se encontra já como sendo esta sarça – em poder ou em realidade; tudo o que o cerca, é este solo santo sobre o qual o Pai Espiritual só pode pôr o pé depois de ter tirado suas alparcas, e de outra maneira fazer como o Publicano que, permanecendo na entrada do Templo, observava ao interior e sabia que era lá o domínio do Deus Vivo, um lugar santo, e que Ele só tem o direito de nele penetrar se Deus Ele-Próprio o ordena ou se Deus Ele-Próprio lhe assopra o que fazer ou que palavra pronunciar.

Uma das tarefas do Pai Espiritual é a de educar seu filho na liberdade espiritual dos filhos de Deus e não mais o manter em um estado de infantilismo toda a sua vida, a fim de que não lhe acorra, sem cessar, por motivos banais, por nada e em vão, mas para que ele cresça a uma medida tal que seja capaz de aprender ele mesmo a ouvir as palavras indizíveis que o Espírito Santo pronuncia em seu coração.

Se refletirmos acerca do sentido da palavra “humildade”, podemos encontrar duas curtas definições. Primeiramente, em russo smirenie (em russo s mir significa com paz) é o estado de reconciliação, quando o homem reconcilia-se com a vontade de Deus, o que que dizer que remeteu-se a Ele de uma maneira ilimitada, total, com júbilo, e diz: “Faz de mim, Senhor, o que queres!” No fim das contas, ele reconciliou-se igualmente com todas as circunstâncias de sua própria vida: tudo é dom de Deus, e o que é bom e o que é redutível. Deus nos chamou para sermos Seus embaixadores sobre a terra e Ele nos envia lá onde estão as trevas para sermos luz; lá onde está o desespero para ser esperança, lá onde o júbilo está morto para ser júbilo. E o nosso lugar não é simplesmente lá onde tudo está calmo, na Igreja ou durante a Liturgia, quando estamos protegidos pela nossa presença mútua, mas lá onde permanecemos sós, como presença do Cristo nas trevas do mundo desfigurado.

Se tomarmos agora o latim, humilitas vem de húmus, significando a terra fértil. Refleti! – Teófano o Recluso escreveu neste mesmo sentido – Refleti no que representa a terra: ela está lá, silenciosa, descoberta, sem defesa, vulnerável, diante da face do céu; ela recebe do céu o calor tórrido e raios do sol, chuva e orvalho, mas ela recebe também o que chamamos de adubo, que quer dizer estrume, restos, enfim: tudo o que nela despejamos. E o que se passa? Ela traz frutos, e quanto mais ela suporta tudo, o que sobre o plano psicológico chamamos de humilhação e ultraje, mais ela traz frutos.

E então: a humildade é abri-se a Deus de uma forma perfeita, de maneira a não demonstrar resistência alguma nem a Ele, nem à ação do Espírito Santo, nem à imagem de Cristo em toda sua realidade, nem ao Seu ensinamento, e de se encontrar vulnerável à graça assim como nos acontece de nos encontrarmos vulneráveis à mão do homem, à uma palavra afiada, à uma ação cruel, a um escárnio; e é dar-se de maneira a que, de nosso bom grado, Deus tenha o direito de fazer de nós tudo o que bem Lhe parece: tudo aceitar, abrir-se, e então, tão simplesmente, deixar-se submeter pelo Espírito Santo.

Parece-me que se o Pai Espiritual esforça-se em adquirir a humildade nesta concepção, se ele vê no homem a verdadeira beleza e se ele conhece o seu lugar (e este lugar é tão maravilhoso, tão santo – é o lugar do amigo do esposo, e a noiva não é a sua noiva, todavia, ele está lá para proteger seu encontro com o esposo), então ele pode verdadeiramente ser o companheiro de rota de seu filho espiritual, seguindo-o passo a passo, protegendo-o, sustentando-o, sem jamais inavdir o domínio do Espírito Santo; e, neste caso, a paternidade espiritual torna-se uma parte desta espiritualidade, e esta progressão na santidade a qual cada um dentre nós é chamado, e que todo Pai Espiritual deve ajudar seus filhos espirituais a atingir.

Mas onde procurar Pais Espirituais? O mal é que não devemos procurar os Startsynem mesmo os Pais Espirituais, pois poderíamos fazer a volta do mundo sem encontrar; todavia, a experiência mostra que por vezes Deus nos envia a boa pessoa no bom momento, mesmo se não é que por um curto e breve prazo. E esta pessoa torna-se de repente para nós o que eram os Startsy. Sabem, eu geralmente penso que meu protetor celeste não passa da jumenta de Balaão, que se põe a falar e diz ao Profeta o que ele próprio não podia ver. Pois acontece geralmente que alguém venha me ver, e eu não sei o que lhe dizer nem responder, quando de repente por azar, eu lhe digo qualquer coisa e isto se revelará justo. Penso que em uma tal situação, Deus te dá uma palavra. Mas não deves contar que a tua experiência, tua erudição te darão a possibilidade de sempre fazer isso: eis porque, nos convém muito geralmente guardar um silêncio recolhido, e dizer em seguida: “Sabes, não posso te responder logo em seguida...” Temos um magnífico exemplo na vida de Santo Ambrósio de Optina: muitas gentes vinham vê-lo para um conselho, e ele os fazia esperar dois, três dias. Certa vez, um vendedor vem ver-lhe e lhe diz: “Devo retornar, minha venda está fechada e não me dás resposta...” Ambrósio lhe responde: “Eu nada posso te dizer! Já pedi à Mãe de Deus e Ela Se cala...” Para mim, nós deveríamos responder da seguinte maneira: “Eu poderia te dizer algo que provém de meu próprio espírito, ou de um livro, ou ainda de um relato, todavia isso não seria real; por isso nada posso te dizer. Mas também vou orar, e se Deus esclarece a minha alma, eu to escreverei, eu to direi.” – E então tua palavra, quando falas, é acolhida de maneira totalmente diferente do que se possuis altruísmos para todas as circunstancias da vida. Pois todo mundo conhece as suas verdades, todas feitas pelo coração, mas o problema é o de saber discernir aquela que convém numa situação particular.

Sendo, agora, preciso: ao falar do gênio, do talento, não falava a respeito do clero, nem mesmo da categoria dos Pais Espirituais, mas especificamente e exclusivamente dos Startsy, do Startsestvo. E utilizei a palavra “talento” / “gênio” porque no meio da língua falada, ele exprime o que podemos chamar também de “portador da graça”. No mundo, é o gênio da música, da arte, das matemáticas, é algo que podemos atingir pelos nossos próprios esforços. Eis porque não falava do clero em geral e não tinha evidentemente intenção alguma. Em denigrir o Padre de paróquia, o mais jovem, simples, mais sincero que realiza o seu trabalho, confessando as gentes, partilhando com elas o que ele aprendeu dos Padres da Igreja, dos teólogos, de seu próprio Pai Espiritual, dos ferventes cristãos que o cercam. Isto é algo de precioso. Todavia, existe um ponto que me inquieta um pouco: é o fato de que certos Padres, mas eles são espiritualmente ignorantes e imaturos (isso se dirige tanto aos leigos, mas no momento eu viso os Padres, posto que são profissionais), mais eles pensam facilmente que ao revestirem a batina e porem a estola, vão falar em Nome de Deus...e eu fico horrorizado com o fato de que alguém possa pensar que porque pronuncia por três vezes: “Senhor, esclarece o meu espírito obscurecido pelas paixões diabólicas”, suas palavras, em seguida, serão tão simplesmente uma divina profecia!!!

Eu penso que lá opera o bom senso mais elementar: só podemos falar do que sabemos de uma fonte segura. Tomemos um exemplo sobre uma vasta escala: o Santo Apóstolo Paulo podia falar em uma certeza e uma segurança total da ressurreição de Cristo, pois ele O havia encontrado vivo e ressuscitado no caminho de Damasco; ele falava acerca de outros sujeitos sem uma experiência tão direta. Outras pessoas têm igualmente certa experiência, em uma menor escala talvez, mas que no entanto podem dizer: “Sim, eu sei de maneira segura” – tal como este ateu que, virando-se a Deus, escreveu em França um livro com o título “Deus existe, eu O encontrei”.

O Padre e o leigo podem igualmente falar baseando-se na experiência eclesial à qual eles participam, mesmo se não a possuem em sua totalidade, mas, tendo em comum com os outros certas primícias desta experiência, eles podem escutar a experiência de outras pessoas, experiência ainda não totalmente tornada deles, no entanto, quando isso é necessário, podem dizer: “É a verdade, pois é o que diz a Igreja, e eu aprendi mais no seio da Igreja do que por minha própria experiência...”

E, enfim, existem coisas que só podemos falar porque Deus nô-las revelou.

pelo Metropolita Anthony (Bloom) de Souroge
Conferência pronunciada em Moscou, em 1997

"Aquele que é capaz de orar corretamente, mesmo se ele é o mais pobre de todas as pessoas, é essencialmente o mais rico. E...



"Aquele que é capaz de orar corretamente, mesmo se ele é o mais pobre de todas as pessoas, é essencialmente o mais rico. E aquele que não tem a oração propriamente dita, é o mais pobre de todos, mesmo se ele se senta em um trono real."

- São João Crisóstomo

A oração é a elevação da mente e do coração a Deus em louvor, em ação de graças, e em petição para os bens espirituais e materiais que precisamos. Nosso Senhor Jesus Cristo nos mandou entrar em nosso quarto interno e ali orar a Deus Pai em segredo. Este quarto interno significa o coração, o âmago do nosso ser. 

O apóstolo Paulo diz que devemos orar sempre em nosso espírito. Ele indica a oração para todos os cristãos sem exceção, e nos pede para orar sem cessar. Os cristãos ortodoxos se dedicam a oração comunitária e privada . A vida de oração individual é equilibrada com participação nos serviços litúrgicos da Igreja, onde reúne toda a comunidade para a oração e adoração.

Noções Básicas para a Oração Diária

A oração diária é essencial para uma vida cristã ortodoxa saudável. Ela não é uma opção. Por que oramos, como podemos orar, quando e onde vamos orar são questões que abordaremos abaixo.

Palm Sunday : icon corner | mlra: Porque Oramos?
  • Cristo nos pede para orar . Ele nos diz no Evangelho de Lucas, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem (Lucas 11:13). Oramos para que Deus possa nos ajudar a tornarmo-nos mais semelhante a Ele em nossas ações.
  • Para a renovação e o crescimento da nossa alma .
  • Para dar graças a Deus por tudo que ele fornece para nós.
  • Para buscar o perdão de nossos pecados, endo a humildade um pré-requisito para a oração.
Nós também podemos orar pedindo ajuda para outros, bem como para nós mesmos. Mas não devemos esquecer de rezar pedindo a ajuda de Deus em nosso próprio crescimento espiritual. Não é m ato egoísta, ma essencial para que possamos melhor amar e servir aos outros e cumprir os mandamentos de Deus. Podemos pedir também sua ajuda para nos apoiar nas várias práticas ascéticas que escolhemos nos dedicar.


Faça da sua vida uma oração contínua


Somos convidados a orar sem cessar. Aqui estão as referências bíblicas a esta ideia.

Orai sem cessar. (1Ts 5,17)
Rezar sempre com toda oração e súplica no Espírito. (Ef 6: 158) O dever de orar sempre, e nunca desfalecer. (Lucas 18: 1)

Deus quer a nossa vida para torná-la uma vida de oração constante, onde estamos em um relacionamento contínuo com Ele. Esta é a nossa principal tarefa, nos aproximarmos de Deus. Como vamos fazer isso? Santo Isaac o Sírio nos lembra que é impossível se aproximar de Deus por qualquer meio diferente do caminho da oração incessante.

Quando Oramos? Um horário regular para a oração

Prayer table at child's level. I need to do this.: Primeiro, você precisa estabelecer um horário regular para orar. Você deve ter, no mínimo, uma hora específica no período da manhã e à noite, reservado para a oração. Com nossas vidas ocupadas, isso significa que você terá que fazer algumas mudanças conscientes para dar tempo para a oração. Escolha um momento que você sabe que poderá manter, não importa qual. É importante ter disciplina rigorosa nisto. O período de tempo é algo que só você pode determinar, em consulta com o seu pai espiritual. Seu tempo de oração não deve ser inferior a dez minutos de manhã e novamente à noite. O seu tempo em oração vai crescer de acordo como seu relacionamento com Deus cresce. Inicialmente, você vai achar que é uma luta para manter o que parece ser uma disciplina simples, como existem forças negativas que vão tentar desviá-lo de uma prática de oração regular. Mas, chegará um momento em que você não esperará a hora determinada para orar. Será uma verdadeira luta para manter o horário rigoroso de início. Como diz o ditado popular, "Apenas faça"! Pense em todas as outras coisas em sua vida que você faz rotineiramente, como o tempo a caminho do trabalho, da escola, ou os atos de higiene pessoais, como escovar os dentes. Certamente você também pode fazer da oração uma rotina fixa.

Onde Oramos? Um lugar calmo e privado para a oração


Orthodox Icon Corners... You know you are in a home of an Orthodox for sure.: Em seguida, você precisa encontrar um lugar privado e calmo onde você não será perturbado durante sua oração diária. Pode ser um canto no quarto (uma divisória de quarto pode ajudar a fazer um lugar especial), um espaço em um guarda-roupa, ou, se você tiver sorte de ter um quarto extra, uma sala especial usada apenas para a oração. Precisa ser um lugar onde você possa ficar sozinho sem ser perturbado. Depois de escolher o lugar, você deve organizar um pequeno canto dos ícones. Onde colocará um ícone de Cristo, da Theotokos, e de seu santo onomástico (patrono, padroeiro). Ponha uma lâmpada a óleo ou vela para iluminar os ícones enquanto você ora. Também um incensário, uma cruz, um livro de orações e a Bíblia.

Como devemos orar?
"A oração não precisa de professor. Ela exige diligência, esforço e ardor pessoal, e então Deus será o seu professor." St. Meletius o Confessor

Santo Isaac, o sírio diz que devemos:

  • Orar com atenção - para que possamos ter um verdadeiro encontro com Deus
  • Orar com humildade - porque esse tipo de oração vai direto para os ouvidos de Deus
  • Orar com carinho e lágrimas - de alegria e ação de graças, mas também com verdadeiro arrependimento e pureza.
  • Orar com paciência e ardor - "renunciar a si mesmo" é perseverar corajoamente na oração.
  • Orar das profundezas do coração - mesmo se orarmos usando 'as palavras de outro' eles devem ser pronunciado como se fossem nossos próprios. Santo Isaac diz que isso é verdade especialmente para os Salmos.
  • Orar com fé e confiança absoluta em Deus - porque Ele conhece a nossa vida.
Preparando-se para Orar

Com um horário regular e um lugar especial, você está pronto para começar. Você começa a orar, concentrando sua consciência em seu coração e reunindo forçosamente todas as potências existentes, da alma e do corpo. Aproveite um tempo no início do seu momento de oração para acalmar seu corpo e concentrar suas energias em seu coração. Cristo diz: "entra no teu aposento e ... fechando a tua porta" (Mt 6: 6). Remova todas as atividades que poderem perturbar a sua descida interior. Ponha de lado, com o melhor de sua capacidade, todos os seus problemas do dia e as suas preocupações para o dia seguinte. Este não é o momento para pensar ou se preocupar. Quando você está se preparando para orar, em pé, sentado ou andando a poucos minutos, acalme sua mente para se concentrar em Deus.

Reflita sobre quem você estará se dirigindo. Lembre-se, é com o próprio Deus que você está prestes a falar. Tente trazer um sentimento de humildade e temor reverente. Faça algumas prostrações antes de começar.

NOTA: Devemos orar de frente para o leste, isto é, o oriente.

Siga a regra de oração e use orações escritas no início

Você deve ter uma regra específica tanto pra manhã quanto para a noite. Não tente improvisar. Você está desenvolvendo uma disciplina que está além do que você vai achar que deve fazer. Este não é um exercício de relaxamento, mas um caminho para estar em comunhão com o seu Deus. Você precisa ter um conjunto de regras específicas para seguir todas as vezes sem desculpas para encurtá-las. Coloque em sua regra, o ato de ficar em pé, prostrações, de joelhos, fazendo o sinal da cruz, leituras, e cantar às vezes. Use livros de orações e preces escritas. Os livros de orações ortodoxas estão cheios de orações que foram bem testadas e utilizadas por centenas de anos. A oração não tem que ser uma atividade criativa. Você deve ser sincero. Mantenha a sua atenção em seu coração e se concentre nas palavras da oração. Depois de estabelecer uma regra, a mantenha sempre. Certifique-se de trabalhar nisto com o seu Pai espiritual.

Concentre-se em cada palavra - Não apresse sua oração

Na medida em que você começar a rezar adentre em cada palavra da oração. Traga o significado das palavras para o mais profundo do seu coração. Não acelere as orações como se tivesse pressa para terminá-las logo. Deixe-as cair lentamente nas profundezas do seu coração com humildade e temor de Deus. É como dirigir um carro. Quando você está indo a 150 km/h pela estrada você pode se sentir poderoso e no controle. Mas, em altas velocidades coisas podem dar errado rápido. Ao dirigir a uma velocidade de 40 km/h, o carro é dominado perfeitamente e se alguém fizer uma manobra perigosa você pode desviar facilmente. Bem, a mente funciona da mesma maneira. Nós queremos treiná-la a abrandar assim nós podemos tomar consciência da presença de Deus dentro de nós. Assim, na oração, devemos dizer as palavras lentamente, para que possamos compreender o sentido delas e permitir-lhes penetrar a nossa consciência e trazer ao nosso coração sentimentos de amor e reverência para com o nosso Deus. Deixe as palavras caírem uma por uma em seu coração, como seixos caindo em uma lagoa. Você acabará encontrando o ritmo certo para si mesmo. Cuidado com a tendência de apressar-se para terminá-las rapidamente. Quando essa tendência está presente, você tornou sua oração em uma obrigação e já não é uma oração verdadeira. Não se preocupe se você se pegar fazendo isso. É normal no início. Basta parar e desacelerar e prosseguir pedindo perdão e ajuda de Deus. Além disso, deve estudar as orações antes de usá-las para você saber o significado de cada palavra. Eventualmente, você vai querer memorizá-las.

Concentre sua Atenção na Oração

Depois de começar a recitar suas orações, você vai achar que sua mente vai querer vagar. Enquanto você está recitando as palavras da oração, sua mente pode saltar para algo completamente diferente. Não fique preocupado com isso, isso é natural devido às forças que não querem que oremos a Deus. Esforça-te para aprender a concentrar tua atenção. Compreenda que, quando isso acontece, você já não está orando. Quando sua mente vagueia, seja gentil consigo mesmo e recite de novo o que você disse enquanto sua mente estava em outro lugar. Faça um esforço para voltar a concentrar-se nas palavras da oração. Às vezes, ajuda dizê-las em voz alta por um tempo. A mente é muito hábil em fazer mais de uma coisa de cada vez. Você precisa trazer-se a um único foco: em Deus. Quando você está falando com seu melhor amigo, você não pensa em outras coisas. Quando você vai até seu patrão para uma discussão, você se concentra. Deus merece mais atenção do que qualquer um, então você deve aprender a se concentrar, focar nas palavras da oração. Estas divagações da mente nos mostra o impacto da nossa vida agitada, a qual precisamos encontrar maneiras de tornar mais silenciosa para que possamos estar sempre conscientes de Deus, não importa o que estejamos fazendo. A oração não é momento para ser distraído por essas atividades mundanas, porque isso só vai distraí-lo ainda mais da oração. Esforça-te para concentrar tua atenção cada vez mais. A cada dia você vai ganhar mais atenção durante a sua oração. Aprenda a erguer sua mente para que esteja atenta às coisas celestiais.

Não se apresse em fazer outras atividades quando terminar a Oração

Quando terminar suas orações, repouse por alguns momentos. Considere o que tua vida de oração te compromete. Tente manter em seu coração o que te foi dado. Valorize-o por alguns momentos.

Ore a cada manhã e à noite, no mínimo

Lembre-se de fazer da sua vida de oração baseada em uma regra firme e não algo que é feito ocasionalmente, ou esporadicamente. Deve ser feito todos os dias pela manhã e à noite, no mínimo. Você precisa ter orações específicas que fazem parte de sua regra de oração. Você precisa se ​​comprometer a cumprir a regra a cada dia. Pense em determinadas tarefas de higiene pessoal, como escovar os dentes que você faz a cada dia por força do hábito. Você não se esquece de fazê-las todos os dias. Sua regra de oração precisa se tornar um hábito tão forte como estes. A oração deve se tornar um hábito diário o qual você nunca esquece. A oração é essencial para a saúde da nossa alma, assim como as atividades de higiene que fazemos para a saúde do nosso corpo.

FONTE: Orthodox Prayer

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